A vida é dura

A vida é cruel, clichê e cinza.

Amarga-me a ponta dos lábios o modo como a vida se estica à minha frente e ao falar eu sinto esse gosto ameaçador me dizendo: -Se você contar eu te amargarei ainda mais. Mas eu não tenho medo, eu tenho sossego no peito e foi por isso que saí ao mundo dizendo: -Minha vida está rosa, está rosa! _ e como uma rosa ela murchou... E o gosto (ainda mais amargo) cantou vitórias.. Eu, porém, não me julguei vencida. Respirei fundo e peguei essa vida que (esnobe) se esticava a frente dos meus olhos. Peguei-a como se pega uma serpente louca para te envenenar e massacrei sua cabeça até achar que ela não podia mais me atacar ou me amargar e tirei da sua boca o veneno que (amargo e escuro) descia sob suas presas. -Serpente maldita! _Pude, então, gritar. No entanto, foi neste instante que me lembrei que a serpente era a vida, era a minha vida.. E estava eu a massacrar a cabeça da minha própria vida.. Como pude eu me tornar uma assassina, uma assassina de mim mesma? Sim, eu era uma suicida inconsciente que acabava por esganar-se em vão momento de delírio.
Ainda arrependida do meu maior engano, peguei a pobre a serpente ainda lutando por pulsar e coloquei-a sobre meu colo. E, nesse momento em que se sente a profundidade de um arrependimento, eu senti pena. Senti pena de mim mesma... Eu, que (tola) pensei que a minha vida era ruim, não pude perceber que ela só me avisava dos perigos que há quando se anuncia sua felicidade à todos. -Vida minha, me perdoe por te julgar tão vazia, tão má, tão dura.. Por pura ignorância quase perdi a chance de viver intensamente o meu bom momento. Mas a realidade me veio a tempo de não me deixar cair dentro dos meus delírios, num poço onde o cinza não tem fim...
Um olhar vazio então pareceu me sorrir.. Sim, sorriu-me de novo a serpente. E, perdoada, tratei com carinho minha vida que, hoje mansa, dorme sobre meu quente colo e ao abrigo dos maliciosos olhares alheios.